domingo, 9 de agosto de 2009

Sobre a morte e o morrer

Como uma dádiva dos céus, assim é a morte para os que dela podem usufruir seus mais doces frutos. Todo ser existente, desde estrelas até a mais ínfima partícula que compõe a matéria sofre, vivencia o processo de aniquilação.
Todo existente é transitório, ainda que em dimensões temporais diferentes. Até mesmo o universo não é mais eterno, sofre constante transformação, surge, acaba, ressurge, quem sabe já não estamos na 4ª ou até mesmo 10ª edição deste cosmo conhecido? Pois bem, há uma grande possibilidade disso ser verdade. O homem, assim como outros seres biologicamente vivos, passam pela experiência do aniquilamento, do morrer, da presença corrosiva do Nada, o que Heidegger denominou nadificação. Contudo, a experiência da morte se revela algo de misterioso e indecifrável, ainda que natural, mas como?
Até onde sabemos, somente o homem pode comunicar, através de uma linguagem sólida, clara e objetiva, acontecimentos internos, subjetivos. Só o homem possui um grau de consciência que manifesta e sente de maneira tal que consiga sistematizar a própria capacidade de existir, como também, de entender os processos que estão além de suas percepções subjetivas, tais como os fenômenos em escala micro e macroscópica.
A experiência da morte, é, então, uma experiência decisiva, única, irrepetível e incomunicável, nesta existência consciente. Talvez por esta mesma razão, cause tanto espanto e medo, apesar de ser nossa irmã mais próxima, que nunca envelhece, mas está sempre conosco, esperando a hora derradeira para se manifestar.
O processo de morrer, se assim podemos nomeá-lo, inicia-se, já, quando uma nova forma de existência é concebida. A morte está presente no início. Alguns se confundem achando que o processo de morrer se dá apenas numa enfermidade ou coisa de natureza semelhante. Ledo engano. Esta presença se manifesta a cada minuto, a cada segundo de nossas vidas. O tempo é o amigo mais fiel da morte. Não pára, é silencioso. A meditação sobre a morte é o tema mais precioso de todos os filósofos na história do pensamento humano, e por que? Porque quando nos colocamos diante desta possibilidade inexorável, nossas fortalezas se desmontam e nossas certezas desaparecem, fica apenas uma existência fria e sem sentido. Exatamente! A morte, sem rodeios, nos leva a perguntarmo-nos sobre o sentido, o que espero da vida e o que a vida espera de mim para que tudo não seja simplesmente correr atrás do vento? É aqui, nesta hora, que repousa a singularidade humana, pois só o homem pode formular a pergunta pelo sentido e viver a morte como uma dimensão existencial diferente dos outros seres, sejam eles macro ou microscópicos.
Por fim, perguntar pelo sentido, pela vida, pela morte é buscar uma revelação sobre a natureza do homem e a razão de seu existir. Morrer é perguntar pelo sentido da vida, e esta é a pergunta central, a mais importante, pois sem uma resposta satisfatória nada passa de perda de tempo e correr atrás do vento.

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